terça-feira, 14 de junho de 2011

Se quiser mudar meu mundo, faça de outro jeito

Falta apenas um exame a fazer. Estou no aguardo do chamado da internação. Não sei ainda quando nem por quanto tempo. Stand by...enquanto isso, meu corpo segue mudando. Emagreci...as pernas definharam e estão flácidas...perdi muita massa muscular...tortura da autoestima..., mas isso é o de menos. Conhecer e cultuar as entranhas desse movimento de "re" e "des" construção da imagem do corpo, é trecho constante da estrada de qualquer um...e como eu sei disso, vocês nem imaginam...afinal, este assunto foi o objeto de tantas leituras para a redação de minha tese (ironia nº2?). Ressignificar o que minha representação interna infere na silhueta externa, envolve plenamente minhas emoções e relacionamento com o julgamento social. Isto fez-me lembrar do tempo em que eu presumia que parte dos cadeirantes vestia calças esportivas para evitar os olhares externos sobre as ossaturas salientes das pernas, fruto do desuso... e que usavam tênis somente para combinar com o modelito. Não é nada disso. No meu caso, a vaidade perde espaço para o conforto e a praticidade na intenção de melhor valorizar a funcionalidade que nos resta. O uso preferencial de calças esportivas ou com elástico predomina simplesmente por causa da maior facilidade na independência de vestir-se...e os tênis, porque protegem melhor os pés contra alguma eventual colisão quando deslizam fora do suporte da cadeira em movimento. Aliás...a dificuldade de calçar os tênis, é a mesma de calçá-los em outra pessoa dormindo...sensação estranha. Tenho a impressão de ser uma cabeça atrelada a um tronco que arrasta um saco pesadíssimo da cintura pra baixo feito um guindaste, um pêndulo, aquela metade fantasma como um apêndice morto. Sinto dificuldades em manter um sono estável porque me mexo muito e me acordo por não conseguir desvirar-me num movimento fluido. A organização do dia deve ser sempre sistemática. Tento fazer "eliminações" quando vou ao banho, evitando muitos deslocamentos por causa dos transtornos da acessibilidade. Para as saídas, não posso esquecer de consultar com antecedência se o porta-malas do carro que vai me transportar tem a capacidade de comportar uma cadeira de rodas; caso contrário, saber se o proprietário não se importa em acomodá-la no banco de trás, sem nenhum passageiro a mais. Se for a restaurantes, cinemas, shows, tenho que lembrar de ter informações prévias sobre a acessibilidade e lugar do acompanhante, fazer reservas para evitar improvisação repentina de um outro plano, rezar para a vaga do carro não está ocupada ou bloqueada por uma corrente (Cadê o guarda!!!?) e se os banheiros são adaptados (e não estão trancados a chave!! Quem está com a chave?). Além disso, no momento, tenho que evitar permanecer muito tempo na mesma posição, ou usar meia especial ou tratamento injetável para evitar trombose. Afinal, o retorno venoso está diminuído. É... pense duas vezes antes de me convidar para sair! E se o fizer, não faça por educação ou por solidariedade, e sim porque de alguma forma faz questão de minha presença na sua vida e sente vontade de querer ainda e muito fabricar novas lembranças comigo se beneficiando da rica experiência do passo a passo dessa saga. Mas principalmente que não seja um sacrifício! Na verdade, eu não preciso que você faça por mim aquilo que eu posso fazer sozinha. Pode deixar, eu mostrarei minha condição funcional pra você. E para isso sua presença me basta. Ninguém entende nem imagina a dor do outro...é impossível. Só posso sentir a minha. Sofrimento é personalizado e certamente cada um sabe a aridez de seu caminho. Não se compara abstrações, elas são por natureza bem relativas. Eu só posso partilhar com meus pares as dificuldades semelhantes, as experiências em comum e no máximo buscar nisso tudo alguma razão para ser feliz. Voltar a andar não depende de mim, não quero ter essa responsabilidade nem essa obrigação. Entendo a intenção de vocês em não me deixar esmorecer, mas a forma de expressá-la muitas vezes me torna refém das expectativas. Essa certeza e essa garantia me pressionam e me pesam no esforço de me cobrar em corresponder às esperas. Faço todos os dias tudo para estar bem sem deixar de acreditar nem investir a fundo em minhas forças para voltar a andar. Rassurez-vous. Mas tenho me questionado sobre o assunto e sugiro que vocês façam o mesmo. Interroguem-se se isoladamente o fato de andar, fariam de vocês pessoas felizes. Eu me perguntei esses dias "Você era feliz quando andava? Estava feliz no dia da queda?". Pergunta mais idiota, afinal, muitas vezes estive triste mesmo "andando", porque provavelmente o fato de andar não era suficiente para reverter-me em felicidade. Isso é o mais irônico...ora, se eu me fixo a ideia agora de que voltar a andar representaria minha alegria suprema, porque então não pensei nos momentos tristes “pô, mas pelo menos eu tô andando!!!!!!"? Mas eu também poderia ter pensado "Se estou triste agora mesmo andando, imagina se não andasse!!?". Bem relativo...para onde vai essa minha reflexão? Ela me conduz a uma pessoa, que depois que ficou paraplégica, mudou tanto a vida para melhor que hoje não faria a menor questão de voltar a andar. É... isso existe, sabia? Tudo porque sua limitação abriu as portas para outro mundo. Não estou dizendo que ao invés de querer recuperar a função medular, vou ingressar a equipe de paratletas de não sei que modalidade e estrear em Londres 2012 nos paraolímpicos!!! (E será que ainda dá tempo, hein?). O que estou dizendo, é que apesar de hoje eu atribuir minha felicidade ao reestabelecimento da minha vida "bípede", desconfiem que outras opções também podem existir... quero mesmo voltar a andar (e obrigada por torcerem junto) ...mas pode ser que minha condição atual seja definitiva... e no mais, e as outras pessoas amigas ou outros anônimos no mundo, que já tenham posição médica definida? Será que eles também não merecem uma felicidade própria? Não deixem que a esperança da recuperação de uma funcionalidade desautorize outra possibilidade de ser feliz. O ser humano é capaz de adaptar-se as novas provações. No meu caso, me contento que queiram apenas meu "bem", sentem a meu lado e esperem comigo enquanto faço minha parte. Vocês que andam querem que eu volte a andar para ser feliz? Tenham então vocês a obrigação da felicidade pelo simples fato de andar! Sintam o prazer do impacto do pé no solo fazendo avançar a estrada. "Sigam aonde vão seus pés"...escalem as encostas...Esperança? Certamente...mas sobretudo queiram que o resultado final traga-me o vigor de uma vida feliz! Se quiserem mudar meu mundo, o nosso mundo, digam-me de outro jeito, façam de outro jeito. Tentem, portanto, “corrigir" esta espera desejando "que a felicidade ande sempre perto de mim".

16 comentários:

  1. oi,nen sei como começar. Mais tudo bém,quero lhe deixar um abraço e uma mensagem ok? vamos lá. O instinto orienta as aves - Oque orinta o homem?Muitoe vivem sem saber bem o que é certo ou errado e que rumo sua vida está tomando.Saiba como encontrar as melhores orientações e uma esperança maravilhosa para o futuro.Superior ao instinto, o ser humano,desfecho sublime das criações de Deus, não é orientado essencialmente por instinto. Em vez disso, nós temos livre-arbitrio, conciência e capacidade de amar.Por causa de todos esses dons, podemos tomar decisões justas e moralmenta corretas que ás vezes refletem abnegação e amor extraordinários.Kalina parabéns por vc ser essa pessoa. Maravilhosa beijos.

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  2. Não estou gostando nada disso, todo dia a Sra. me faz chorar com suas palavras. Adorei o video, já tinha visto, mais é um daqueles que sempre emociona, por mais que já se tenha visto. Saudadess! Se cuida!

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  3. Prof. Que a felicidade ande sempre junto de você. E eu vou estar perturbando na volta ok?
    Beijão
    M7

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  4. MELHOR DE TODOS!!!
    Andando ou não, você SEMPRE SERÁ IMPORTANTE para amigos, alunos e afins...Não só por esse cérebro "super POWER" que você tem mas também pela pessoa MARAVILHOSA que é (de coração).

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  5. "mude suas palavras.
    mude seu mundo."

    Árduo, doloroso aprendizado.

    Beijos,

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  6. Todo o universo e as forças superiores estão a seu favor. Acredite! Muita luz e serenidade pra ti. Potes de "cafuné' pra matar a saudade.

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  7. Kalinaaa, vc tá fazendo falta pra mim...de qq jeito...tanta coisa pra te contar....
    Pois é, eu ando e não tô feliz....
    Quero que vc volte logoooo pra gente sair...sua companhia me faz tão bemmmmmmmmm!!!
    Bjs da sua amiga Renata

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  8. De surpreendente clareza e eloquência suas palavras. Hoje mais encantada com este post do que com o do Pequeno Thor. Tenha uma ótima semana e esse stand by passe rapidinho!

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  9. Qua a felicidade esteja sempre perto de você, andando ou não. Beijo e que Deus te abençoe.

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  10. Levante Uma Pedra lá estará,Retire Um Pedaço de Madeira lá Encomtrará...
    A Sua felicidade não é a minha, más gestos da feleicidade que te desejo!
    São sinceros os votos,náo p/ agrada-la,acredite só isso que te enpede de ver a sua "felicidade".
    Reflita de novo sobre as palavras...
    Tem gente que não tem o que vc tem?! AMIGOS!!!
    Extenssão de vc.

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  11. Comcordo plenamente com suas palavras e pricipalmente com o video. Nada de surreal.
    devemos prestar atenção em pequenos detalhes de nossas vidas e da queles que nos rodeiam. Nem que sj por alguns segundos..

    "Isso se chama sencibilidade".

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  12. Muito sábia as tuas palavras, só me dá vontade de chorar... vc conseguiu calar aquele meu riso alto... é pena eu estar tão longe de ti, pois a vontade que tenho agora é de te dar um abraço bem forte (sem palavras) para te sentir minha amiga.
    Que Deus esteja contigo e te abençoe.

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  13. Uma vez você me falou: a parte boa da gente ficar mais velha é que sabemos de antemão o que vão querer da gente... Talvez a gente saiba de antemão também o que NÓS vamos querer de nós mesmos, e talvez também seja isso uma vantagem: podemos nos precaver contra certos desejos, certos apegos, que definitivamente não vão contribuir para a nossa felicidade. Alias, só vão nos enrolar num novelo complicado de desencantos.
    Aqui tou descobrindo uma outra Monstra que eu não conhecia... Te adoro também, Outra Monstra! =D
    Mil beijos,
    Tricóide

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  14. Pois é, minha amiga! A Felicidade não depende de ser andante ou cadeirante, de raça, de religião, mas de uma coisa eu tenho certeza que depende. A felicidade depende de termos amigos presentes, mesmo distantes, mas sempre presentes... depende de pessoas que nos ensinem, que nos compreendam, que nos escutem e que nos falem (mesmo que seja com linguagem de sinais), que nos vejam e que nos façam ver (mesmo que com o o auxílio do toque).
    E desses amigos, minha querida, você está e sempre estará cheia.

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  15. Nossa...esse repertóri de amigos reaparecidos me deixa surpresa...eu não vejo os olhinhos nas janelas...mas tenham certeza que as luzes reacendem dentro de mim quando vocês passam por aqui. Gi...em mim sua risada será sempre aquele "estalo" engraçado. A distância é apenas geográfica. A Janny ressurgiu das cinzas!! Tri. a outra mosntra faz uso do que havia de mais precioso em mim:a felicidade não vivida! Beijo a todos

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  16. Larissa: o stand by se destrói e reconstrói todos os dias...a gente sempre torce pra que ele passe pra vida "andar". Obrigada pela visita.
    Hugo: exatamente o que penso! A presença é mais importante que qualquer palavra e não depende de nenhuma distância geográfica. Obrigada por estar por perto! Bjo

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