terça-feira, 7 de junho de 2011

Postagem técnica: situando a condição atual.

Inventar ou dar outro significado a vida não é brincar de dicionário – é brincar de viver ao invés de somente existir. Este tem sido meu trabalho cotidiano. Desde aqueles avanços todos pós hospital, não progredi mais. Muita gente do bem me visitou: alunos queridos me fazendo homenagens – tanta reza, oração e meditação numa entrelaçada comunhão de religiões e pedidos comuns; amigos do colégio me fizeram visita surpresa, amigos recentes e os mais antigos rondando, meus manos quando puderam. Recebi torpedos, scraps, e-mails, postagens e telefonemas constantes. Todos eles me fizeram sentir menos ilhada na minha "poltrona", deixando meus dias mais providos de alimentação quentinha, carinho e fé. Também tive quatro cuidadores pacientes que se revezavam 24h aturando minha dependência. Outros amigos assumiram meus afazeres profissionais sem hesitar – nunca os esquecerei...são minhas pernas agora. Sim, os curiosos estavam presentes também. Gente que nunca se interessou pela minha vida, mas checaram como ela estava para contá-la à sua maneira. Mas confesso que eu me sentia constrangida ao ouvir a esperança das pessoas. Era como se eu fosse jogar uma partida de basquetebol e todo mundo tivesse ido assistir e esperasse minha vitória por terem decidido que eu era favorita, mesmo sendo um esporte que depende de muitos outros fatores extras. Ou frases como "Que bom ver que você está melhorando!", "Já está andando? Não? Mas vai andar logo, logo!", "Que susto você nos deu!".

Eu não me sentia melhor em nada! Eu estava em uma cadeira de rodas! E me angustiava por correr o risco de decepcioná-los em suas esperas. E se eu não andar mais? O que essas pessoas dirão a seus Deuses? Ou será que eles que terão que dar-lhes satisfações? Não conheço a lei que rege as energias, nem as relações dos mortais com suas crenças. Sei que o tempo e a paciência são coisas que torturam, mas a incerteza...essa... desarruma a casa como um furacão. E a lentidão dos minutos de fato enchiam minha vida de leituras incompletas...dessas que nos levitam, plenas de sonhos inacabados, de planos despedaçados. E meu coração coador...senti um alívio estranho por minha mãe não estar mais vivendo. Ela ficaria inconsolável se me visse assim. Fui invadida por um silêncio ardido, me escondendo das esperas entusiasmadas por dias melhores, medo de querer o desnecessário, de choramingar a vida ativa ficada no passado...lembro do Lenine ditando todos os medos naquela música...fiquei muitos dias improvisando a vida. Enquanto isso, minha fisioterapia em sessões realizadas em casa por um anjo que me caiu do céu, encerrou-se, e recomeçou na neurologia da universidade sob a regência de um par de alquimistas (uns fofos) ...na verdade, tudo isso estava acontecendo enquanto eu esperava uma vaga muito concorrida para consulta no hospital de Brasília. Um hospital referência na reabilitação aqui no Brasil, de difícil acesso, se não fosse a mobilização dos amigos do colégio. E de fato, agora...já estou em Brasília hospedada no ninho de uma família adorável.

2 comentários:

  1. feliz em saber que vc conseguiu. lembro do primeiro e único telefonema q tivemos depois de tudo. que falamos nisso. agora é o tempo e a paciência. eles CURAM tudo.

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  2. Parece que no meu caso eles são os companheiros gêmeos de todas as horas...

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