quinta-feira, 9 de junho de 2011

Lembrei...e era tudo apenas...realidade

As paredes penduradas no teto e ele ali, como uma tenda armada, segurando uma tela branca, enorme. Fragmentos de imagens sobrevoam em um silêncio oco na alma. Inevitável...a água morna não tardou a me afogar os olhos. Lembrei da época em que eu pensava que as guerras só existiam em preto e branco. Lembrei de como fiz uma cicatriz no peito do pé com o ferro do pedal no dia em que aprendi a andar de bicicleta. Lembrei do medo que tinha de minha mãe me esquecer no colégio apesar de não chorar quando ela me deixava lá. Lembrei de quando fui campeã no basquete pela primeira vez, do dia em que fui aprovada no vestibular, de uma mendiga que insistiu em me chamar na rua só pra me dar uma “ficha” telefônica. Lembrei do dia em que ganhei meu primeiro violão, que eu já contei os ponteiros se mexendo durante mais de 1h30 para me fazer adormecer e contei feito os grãos de uma ampulheta as gotas de 500ml de soro caindo para me manter acordada. Lembrei da mocinha que escrevia cartas a noite para o amado à luz de vagalumes guardados em um frasco de vidro. Lembrei da senhora cega que me deu adeus de longe só por saber que eu estava na direção de seu olhar. Lembrei do pai e dos dois filhos que rasparam a cabeça porque a mãe estava fazendo quimioterapia. Lembrei do meu relógio que despertava no meio da aula na quadra só para lembrar que era hora do pôr do sol. Lembrei do trem que perdi e passei a noite inteira sentada na porta de um prédio desviando do vento gelado porque a estação tinha fechado. Lembrei da sensação da brisa no rosto e do reflexo de meu sorriso no vidro da janela do trem, na volta de minha defesa de mestrado. Lembrei do meu choro emocionado por causa da inesquecível surpresa que tive em uma ponte em Paris. Lembrei do desolamento por ter perdido o show da última tournée do Rod Stewart porque tinha ido um dia depois da data marcada. Lembrei do dia em que acordei no escuro, no meio da madrugada, me tremendo de frio trancada em um vagão na garagem do terminal do metrô. Lembrei de ter sonhado com meu cachorrinho branco antes mesmo de eu tê-lo em minha vida. Lembrei da felicidade que o assobio de minha tia me fazia anunciando sua chegada lá em casa. Lembrei que esqueci da história do negrinho Zacarias que meu pai contava. Lembrei de meu 1º irmão ter compreendido eu ter perdido sua defesa de mestrado, da risada de meu 2º irmão ao ficar tonto quando eu o rolava de dentro do tapetinho da sala, de meu irmão caçula ter apertado meu dedo espontaneamente no berço no primeiro encontro que tivemos ainda na maternidade. Lembrei da dor de tirar sozinha as roupas de minha mãe do guarda-roupa dias depois de sua "partida". Lembrei de quando minha avó já com Alzheimer ao me ver depois de tanto tempo, bateu palmas de alegria me confundindo com minha mãe, já falecida. Lembrei de quando acordei na UTI um dia após minha queda...e era tudo apenas...realidade.

19 comentários:

  1. Amiga,
    De clichê é o que menos se precisa quando a nossa espera é angustiante. Mas se a espera angustia, a própria essência da palavra "esperar" já significa esperança, porque se não houvesse, não haveria a espera.
    Acredito na vida - assim como você - e pouco acredito em "acaso do destino". Até porque, com criação católica, o destino se torna muito chato e no fundo, mata a esperança.
    Enquanto estivermos JUNTOS nessa espera - sim, estou junto na espera com você - vamos aproveitar o que realmente vale a pena nisso tudo que se chama mundo: viver!
    Voa-se sem asas, mas com pensamentos. E espero, breve, que a gente se encontre para conversarmos e fofocarmos sobre o dia a dia.
    Saudade de você!
    Lívio di Araújo

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  2. Lindo...afeto que aquece o coração. Saudades..

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  3. me fez chorar vasorinha !! te amo muito , nao sei o q dizer, só espero junto c vc sua melhora !!

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  4. Tb te amo maninho...saudades de sua risada

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  5. Você é um gênio! A Inteligência quis morar em você!

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  6. Prego, tudo me emocionou muito, lágrimas rolaram o tempo todo, mais conseguí sorri um pouquinho tbm quando lí ...de meu irmão caçula ter apertado meu dedo espontaneamente no berço no primeiro encontro que tivemos ainda na materinidade... , ...do meu choro emocionado por causa da inesquesível surpresa que tive em uma ponte... . Bem, me desculpe se fiz comentários sem noção, o momento é delicado e vc sabe, que EUZINHA aquí não tenho a mesma SABEDORIA que VOCEZINHA aí, porém;
    Vamos acordar
    Hoje tem um sol diferente no céu
    Gargalhando no seu carossel
    Gritando nada é tão triste assim
    Kalina, muita luz. Te curto!

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  7. Luizinho, inteligência é ter sensibilidade para captar o outro, ainda que nem tão próximo...e isso você é...rs...bj..

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  8. Rô...comentário de quem sabe o valor das coisas...sim, tudo novo de novo..tb te curto muito...beijo meu.

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  9. Mons!
    Acho que eu nunca te disse: você sempre me boqueabriu (tradução: me deixou boqueaberta). Eu nunca consegui entender como você se mantinha em linha reta, ou se não tão reta, pelo menos em uma linha, qualquer, que você inventava, prá escapar, se virar, dar conta, volta por cima e seguir adiante, na mesma ou noutra linha, mas sempre com o olhar PRÁ FRENTE. Eu sempre me surpreendi com as tuas estórias. Mas me surpreendia ainda mais com as linhas que você continuava traçando, pontilhadas, tracejadas, traço-ponto, o escambau!
    Também não te contei: em muitos momentos você foi uma referência (isto não é puxa-saquice).
    Credo do orgulho que sinto por você agora, viu!!!
    Beijos monstruosos, mil,
    Moá

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  10. Oww...mons...Saudades dos delírios filosofais e tragicômicos...e da nossa cumplicidade...abraço eterno..

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  11. Caramba..
    Ler esse texto me fez imaginar você em cada lugarzinho desses...
    Me apertou o coração por saber que você já passou por cada uma...
    Mas lendo aquilo...Me fez lembrar também de uma cena no início do ano.
    Quando uma professora magrinha, pequenininha magrinha me perguntava meu nome...
    Mal sabia eu que ela seria bem mais que uma professora pra mim.
    Te adoro.' =)

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  12. Brene, esse é o mundo mágico das palavras. que bom que você o percorre...

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  13. Kalina são as jornadas, provações diárias a que temos que passar.
    Confia na vida assim como o guerreiro Ulisses que passou vinte anos longe de sua amada Penélope, de seu filho Telêmaco e de sua terra Ìtaca e mesmo assim nunca deixou de acreditar que um dia voltaria, até que a deusa Palas Atena resolveu trazê-lo de volta. A fé é uma coisa poderosa!

    Quero te fazer uma visita acompanhada de nosso amigo Geider.

    Li todos os posts e é muito bom te acompanhar pelo blog.

    Beijo no coração.

    Titina

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  14. assim como o neruda, vc pode dizer com toda tranquilidade: "confesso que vivi"

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  15. Incrível isso...rsrs...porque disse exatamente essa frase hoje...você me desvenda...

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  16. Achei muito lindo! E no futuro você vai lembrar os dias que passou em Brasília, ou na cadeira de rodas e vai ver como no final tudo da certo. Beijoo, saudades.

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  17. Tomara Got....também sinto saudades de lembrar de você andando nas pontinhas dos pés. Beijo.

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  18. As vezes é inevitável segurar as lágrimas ... te adoro muito Kalina... bjus e espero logo te ver!

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  19. Titina...vamos sim causar esse reencontro. A vida é breve! Beijos e obrigada pela presença.

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