sexta-feira, 15 de julho de 2011

Quantos dedos então faltam?

Já tá perto? Vai demorar muito? Quando eu vou crescer? Com o "tempo" as perguntas mudam, mas ainda assim ele permanece pano de fundo. Como se mede tudo isso? Pela intensidade do que se vive? Em segundos, dias, anos? E quantos segundos duram um segundo? Você sabe?
Não, não...eu não me enganei nem você leu errado. É isso mesmo. O encontro pode ser curto e ainda assim eterno. E pode ser longo e completamente inexpressivo. De abril pra cá foram 3 meses de intensa busca, lenta espera, dúvidas, confrontos, estimativas, julgamentos e transformações.

O nunca e o sempre têm a mesma duração ainda que em direções contrárias. Será que vale a pena conhecê-los? Como diria uma voz amiga: "nada é tão longo que (não) seja definitivo ou imutável. Esse funil à conta-gotas que não preenche, e que tortura. Maltrata porque nele a expectativa frustra, ainda que a esperança branda amenize.

Remando sobre rodas sem bússola e sem endereço de destino. Aliás, que destino? Como aquele soldado do livro do Buzzati que parte à deriva com expectativas para ser lotado em um antigo forte somente com o dever de velar o deserto. O tempo conta diferente para quem é livre? O que diria um "presidiário cumprindo sentença"? Um refugiado encarando o exílio? Um refém enfrentando um sequestro? O tempo parece ser aquilo que a liberdade sequer vê passar. Ignora qualquer esperança com desdém, petulância e autossuficiência.

Para saber o que é o tempo, seria necessário ler o diário de um faroleiro do atol, ouvir com profundidade seu interesse pelo cotidiano, sentir o tédio murmurar relíquias, aprender a reter do sussurro do ócio, os detalhes que não se visualiza. O tempo atrasa a covardia e adianta os impulsos...ele paira levando de volta ou trazendo pra longe..."tem volta e te cobra... o fim é uma forma de recomeçar". Ele fere, dissolve e aborta. Só não para e não cura. Definitivamente, não se iluda, ele não cura...conheço muitos "viventes bem vividos" ainda bem enfermos.

Porém, o tempo prescreve, e por isso alivia...se despede de mim e de você sem avisar, amargando remorsos pelos deslizes e desfalques ou rendendo leveza pela consciência e imunidade. Ele desprende, decola e retoma "marcando o passo" em sua arritmia. Lembro que quando pequeno, meu irmão caçula me perguntou quantos dedos das mãos ele deveria "dormir" até que eu voltasse de onde morava. Demorei tanto no retorno que ele preferiu dar meu nome a uma plantinha que ele regava todos os dias esperando minha volta incerta. Não sei dizer quantos dedos contariam seu sono, nem saberia descrever o vigor daquela plantinha crescendo sob sua vigilância. Eu só sei que o tempo dedicado a mim, me fez permanecer viva dentro dele ainda que distante. Quantos dedos então faltam para fechar esse parêntese?




9 comentários:

  1. Força...este parêntese está com os dias contados!!

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  2. Acredito que nossos parênteses nunca se fecham... damos "enter" e escrevemos um novo parágrafo a cada dia.
    Em nossos momentos de dúvidas aprendemos que, se antes acreditávamos sofrer muito, descobrimos que somos capazes de suportar ainda mais, bem mais, quase o indescritível. Porque não é somente a dor física. Tem a psicológica que nos aflige demais.
    Essa sua lição de vida gera um dever de casa para todos nós que acompanhamos a sua luta diária, mesmo distantes, mesmo ANÔNIMOS.
    Tenha força, força, força você tem força.

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  3. kal, estou por aqui acompanhando passo a passo, dia a dia a sua vida. levando a minha por aqui como sempre, vc sabe como. torcendo por tudo de bom. então vc escapou da tal cirurgia preventiva? e a alta prevista para 02/08, significa o que? bjs e sdds

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  4. Renata: tá mesmo...metade do caminho "andado".
    Anônimo: obrigada pelas palavras. Estou tocando minha força.
    Kets: escapei mesmo. Tomara tudo esteja bem mesmo. Prevista porque eles estabeleceram metas para as 5 semanas que passei no hospital. Espero cumprí-las antes do prazo. Bjs e saudades também.

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  5. e depois da alta? volta? fica? fica indo?

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  6. Menos importa os dedos das nossaa mãos que podemos contar frente ao ato infinito de extender as mãos e poder tocar todos os dedos que cativamos ao longo da jornada (andando, correndo ou mesmo rodando).Você têm idéia de quantos dedos você está motivando neste instante? Você é demais...alías acho que o título de reticências te cai melhor do que o de parênteses.É menos definitivo e jamais imutável.

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  7. Kets: se eu tiver alta (vão rediscutir a cirurgia amanhã) volto no mesmo dia. Só saberei se e qd voltarei quando a equipe conversar comigo dias antes de partir. É isso...
    Anônimo: Não entendi direito sua colocação, mas em todo caso, agradeço pelo reconhecimento e presença. Abraço.

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  8. Bem, Parenteses Aberto, o que quis dizer é que pode faltar um dedo ou milhões de dedos para esse parenteses da sua vida se fechar ou mesmo continuar aberto. Entretanto, você fez com que essa contagem tivesse sentido para várias outras pessoas em suas proprias contas.O tempo é relativo, mas o conhecimento e as experiências serão absolutas quando compartilhdas. Você é um exemplo, não "de vida",mas "para vidas". Esse é o seu maior valor. Cultive-o e continue compartilhando... Jamais esmoreça ou se substime. Ficou mais claro agora?

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  9. Que lindo Kalina!
    Sua poesia parece água que percorre suavemente um rio. Rio cheio de beleza e profundidade.

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