segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobreviver no desafio

Retomando em retrospectiva

Ok...nem dá para esconder de que estou me esquivando...evito falar sobre minha condição sobre o "andamento" de minha vida. Estou progredindo, mas há uma rediscussão sobre a possibilidade de minha cirurgia na cervical...é, novamente. A equipe médica vai se reunir e estarei convocada para participar e ouvir o anúncio final da decisão. Estou fazendo também um diário miccional que é uma espécie de registro da quantidade de urina expelida. Em seguida, a enfermeira passa um aparelhinho para observar o comportamento da bexiga. Esse procedimento é necessário para avaliar minha função vesical e saber se estou apresentando urina residual. Também vou repetir um exame: potencial evocado motor para membro superior para identificar algum eventual comprometimento já que a ressonância apresenta uma compressão medular. Eles precisam desses dados para visualizar o estado geral e avaliar com maior profundidade a necessidade de intervir de forma cirúrgica. Não consigo dormir por causa da ansiedade da resposta. Ansiedade por medo de escapar os ganhos motores durante o sono. Como se o estado de vigília fosse capaz de me manter em movimento e prolongar a realidade atual. Em volta, meus amigos recentes estão aprendendo autonomia, ajustando algumas disfunções, tocando a vida, mesmo com avanços motores estagnados. Eu estou preste a deixá-los em seus avatars ou a me eternizar na recuperação de uma eventual cirurgia. O tempo martela no coração arrebatado. Grito preso de angústia e de alegria. Em um flash me vejo ganhando o mundo, vivendo os planos e em outro, me imagino deitada, imóvel, sedada esperando minhas vértebras se reintegrarem. Resta aguardar a decisão da equipe médica.

Enquanto isso vou revendo meu percurso: desde os tubos da UTI...paraplegia traumática, movimentos distais discretos e débeis escapados de uma tetraplegia que ainda me ameaça potencialmente, esboço de contração no quadríceps no meio de um alongamento, força gradativa, theraband, andador, duas moletas, uma moleta, bengala...três meses...ainda não acredito...mal consigo concretizar essas imagens na minha cabeça, esses movimentos...você não tem a menor noção...é indescritível... Não devo mais temer nada... a vida segue, não importa o que houver. Não sinto saudades de mim, sinto falta de viver de outra maneira...de realizar as vontades que desfalquei, de desenterrar as ideias, de resgatar os rascunhos da lixeira, de queimar o manual de instrução, de virar a página, apagar as manchas, de traçar e de seguir. Se eu "sobreviver", tenho um mundo pela frente. Tenho chances porque "mudei pra sempre". Aprendi a distinguir cuidado e medo, esperança e expectativa, diferença e desigualdade...o valor justo de cada coisa, a voz do silêncio, o tamanho do passo, a fragilidade da vida, a representação da presença...e não duvido do desafio porque ele me cabe e me constrói...

2 comentários:

  1. E vamos lá...as notícias que me chegam pelas amigas são muito boas, fico com o coração cheio de energias quando leio você....beeeeeijos

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