segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu, esperando por mim



Retomando em retrospectiva

Desci, era cedo. O ascensorista me sorriu. O som do elevador cantarolava uma canção antiga, melancólica..."silêncio e sons". O dia parecia não ter acordado. Revi meu programa da jornada...preenchido...TF, musculação e psicologia.

- Bom dia. Hoje às 14h a equipe quer ver você. Vão discutir dois casos e um deles é o seu. Mas chegue na hora. – disse meu terapeuta funcional).

-É, já sei, vou sim. É no laboratório de movimento, não é?

- Isso. Mas vamos ver se hoje você já vai sem a bengala.

- Andar assim sem a bengala? Mas tenho que treinar porque nunca fiz isso...

- Você tá carregando a bengala já. Vamos ver, hoje você caminha entre as barras.

Meu corpo tremeu inteiro. Tive a impressão de ficar tonta. Deu um zumbido no ouvido. Suei frio. Parecia que a cor sumia em dégradée, vindo da cabeça até os pés. Tudo ficou lento e os sons se apagaram. Pensei que era o teste final, o começo do fim, o antes do recomeço. Era como qualquer coisa que me largava em uma estrada estranhamente familiar, no meio do filme, sem paraquedas... o frio na barriga, chaud au coeur (coração aquecido), plexo solar assanhado como um rastro crescente e redondo deixado por uma pedra lançada no meio do lago. Algo em mim "movendo a água abandonada"... o chão parecia um abismo de tão distante de mim. O cérebro descoordenado, balbuciando os ajustes. Estou descrevendo a sensação porque poucas pessoas vão saber o que significa perder e recobrar. Então, leia...

Olhei do alto para meus pés, sem me curvar. Os olhos esticaram para medir o espaço. A bengala grudada na mão...meu sensor, meu guia, meu apoio...a hora da despedida, a volta a autonomia. Talvez ela me dissesse "a estrada é sua, não precisa mais que eu dite os buracos pelo mundo a fora"...memórias retalhadas de emoção. Em frente, o espelho...e nele alguém familiar...eu, ali, refletida, em pé, esperando por mim.

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