quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Evite!



Retomando em retrospectiva:

Quando você ouve, já foi! Não dá nem pra visualizar a “discórdia” cotidiana. “Deixa quieto”, penso. Mas vocês vieram aqui mais uma vez e depois de uma folga. Então aproveito a retomada da escuta. Sei que é necessário filtrar a intenção das pessoas. Sei que se sentem na obrigação de consolar, de dar esperanças, de expressar um sentimento de compaixão. Mas então façamos o seguinte: independente do que se pense ou acredite, vamos combinar todos aqui que existem coisas desnecessárias a dizer, principalmente porque a lesão medular não é algo exato!!

Se não souber o que dizer, não precisa falar nada e se quiser entender, mande ver. Elabore uma pergunta de maneira sensata, mas evite “sobrar” no comentário porque pode ser completamente desviado e sem noção e de quebra, machucar alguém... Segure aí o que já ouvi...

- Nossa... tão nova e tão bonita nessa cadeira de rodas... (“Quer dizer que se fosse velha e feia não teria problema?!?!?”. Evite fazer elogios atropelados!)

- Pra voltar a andar só depende de você! (“Nossa, que fácil! Por que não pensei nisso antes???? Já pensou que legal!? Gostei dessa! Não é hora de dar uma de “Roberto Benigni em A vida é bela” ou “Pollyanna, no jogo do contente”! Fui longe agora hein? A Pollyanna já deve ser avó!". Evite resolver a vida dos outros com um sonrisal – e esse, ainda existe?).

- Se você não voltar a andar é porque não tem fé (“Esse é o clássico! Será que o fato de ter a medula seccionada também não complicaria a recuperação da função medular? Eu particularmente tenho um quadro clínico que no momento me permite acreditar que posso, mas não se pode fazer disso regra geral e nem mesmo arriscar comentário sem conhecer o assunto.” Evite justamente constranger a fé alheia.)

- Minha filha teve uma lesão medular, ficou 6 meses sem andar e hoje está boazinha, andando pra todo lugar. Você também vai ficar boazinha! (“Como assim? E se ela não tivesse voltado a andar, isso ainda daria chance a alguém de voltar a andar? Se ela andou, todo mundo anda?”. Evite comparar as pessoas e suas lesões!).

- Ele está com dificuldade para voltar a andar. Pode ser coisa da cabeça dele (“A dificuldade em lidar com a limitação e dependência física mexe sim com a cabeça e o emocional...mas não provoca uma lesão imaginária na medula – a medula com gravidez imaginária!). Faça assim, se você entender bem do assunto, espere até ver todos os exames específicos ou o laudo deles. Se não entender, melhor não especular. Quando cada um diz algo diferente, é muito pior. Evite dar diagnósticos se não for o médico do paciente.

- Se o cara mexe as pernas, é porque vai voltar a andar (“Esse movimento que você percebe pode ser voluntário ou involuntário – espasticidade. Este último é uma espécie de contração involuntária capaz de mover um membro e mantê-lo contraído por longo tempo em algumas pessoas com problemas neurológicos como a lesão medular...e se não for este caso, saiba que tem gente que pedala em bicicleta estacionária adaptada e nem por isso anda.” Evite relacionar causa e consequência, este caso não é matemático).

- Como vocês "defecam" se nada funciona da cintura pra baixo? (“Sentada mesmo”...minha nossa... Evite agir como um “ser sem noção”!!!)

E a minha preferida:

- O cara era normal e depois do acidente ficou que nem vocês (“Anormais!!?”)

6 comentários:

  1. Só me resta rir... Muito bom lhe ver fazendo o que gosta. Lecionando... Um semestre de resultados gratificante, profa. Bjs

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  2. Você está certa, está certíssima...
    Continue assim, simples, direta e objetiva como você é.

    Beijos.
    Andierison.

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkk, é cada uma que a gente ver....Feliz , muito feliz por sua volta!!.Tudo novo de novo!

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  4. Caraca!!! Ninguém merece ouvir tanta asneira!!! Socorro!! Bjs.

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  5. Tem a tal da saia justa. Se pudéssemos filtrar as palavras, peneirar os ouvidos. O olhar se desvia, mas a intenção não. Dizem que o inferno está cheio, já eu só acredito naquele criado por Dante, mesmo sem ter lido.
    Creio que muita gente queria somente dizer: seja bem vinda! Natal estava com saudades de você.

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  6. Kalina, vc é mesmo ótima com as palavras. Lendo seus escritos, apesar de saber que na maioria das vezes foram escritos cercado de tristezas e expectativas, pego-me rindo de suas "observações educacionais". Educacionais, sim. Sabe pq? Pq tenho aprendido muito lendo seu blog, ou melhor, tenho me educado de verdade.
    Caralho, como é bom saber que a sua evolução vem surpreendendo até a ciência médica. Isso é maravilhoso!
    Espero revê-la em breve. Tenho certeza que um dia iremos olhar pra tudo isso e apostar que tudo não passou de um aprendizado forçado.
    Desejo-te muita paciência e sabedoria para tirar de letra qualquer sensação contrária à vitória.
    Beijão bem grande,
    Geyson.
    Se possível, mande um e-mail para mim: geysongalvao@yahoo.com.br

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