Quando você ouve, já foi! Não dá
nem pra visualizar a “discórdia” cotidiana. “Deixa quieto”, penso. Mas vocês
vieram aqui mais uma vez e depois de uma folga. Então aproveito a retomada da
escuta. Sei que é necessário filtrar a intenção das pessoas. Sei que se sentem
na obrigação de consolar, de dar esperanças, de expressar um sentimento de
compaixão. Mas então façamos o seguinte: independente do que se pense ou
acredite, vamos combinar todos aqui que existem coisas desnecessárias a dizer,
principalmente porque a lesão medular não é algo exato!!
Se não souber o que dizer, não
precisa falar nada e se quiser entender, mande ver. Elabore uma pergunta de
maneira sensata, mas evite “sobrar” no comentário porque pode ser completamente
desviado e sem noção e de quebra, machucar alguém... Segure aí o que já ouvi...
- Nossa... tão nova e tão bonita
nessa cadeira de rodas... (“Quer dizer que se fosse velha e feia não teria
problema?!?!?”. Evite fazer elogios atropelados!)
- Pra voltar a andar só depende
de você! (“Nossa, que fácil! Por que não pensei nisso antes???? Já pensou que
legal!? Gostei dessa! Não é hora de dar uma de “Roberto Benigni em A vida é
bela” ou “Pollyanna, no jogo do contente”! Fui longe agora hein? A Pollyanna já
deve ser avó!". Evite resolver a vida dos outros com um sonrisal – e esse,
ainda existe?).
- Se você não voltar a andar é
porque não tem fé (“Esse é o clássico! Será que o fato de ter a medula
seccionada também não complicaria a recuperação da função medular? Eu
particularmente tenho um quadro clínico que no momento me permite acreditar que
posso, mas não se pode fazer disso regra geral e nem mesmo arriscar comentário
sem conhecer o assunto.” Evite justamente constranger a fé alheia.)
- Minha filha teve uma lesão
medular, ficou 6 meses sem andar e hoje está boazinha, andando pra todo lugar.
Você também vai ficar boazinha! (“Como assim? E se ela não tivesse voltado a
andar, isso ainda daria chance a alguém de voltar a andar? Se ela andou, todo
mundo anda?”. Evite comparar as pessoas e suas lesões!).
- Ele está com dificuldade para
voltar a andar. Pode ser coisa da cabeça dele (“A dificuldade em lidar com a
limitação e dependência física mexe sim com a cabeça e o emocional...mas não
provoca uma lesão imaginária na medula – a medula com gravidez imaginária!).
Faça assim, se você entender bem do assunto, espere até ver todos os exames
específicos ou o laudo deles. Se não entender, melhor não especular. Quando
cada um diz algo diferente, é muito pior. Evite dar diagnósticos se não for o
médico do paciente.
- Se o cara mexe as pernas, é
porque vai voltar a andar (“Esse movimento que você percebe pode ser voluntário
ou involuntário – espasticidade. Este último é uma espécie de contração
involuntária capaz de mover um membro e mantê-lo contraído por longo tempo em
algumas pessoas com problemas neurológicos como a lesão medular...e se não for
este caso, saiba que tem gente que pedala em bicicleta estacionária adaptada e
nem por isso anda.” Evite relacionar causa e consequência, este caso não é
matemático).
- Como vocês "defecam"
se nada funciona da cintura pra baixo? (“Sentada mesmo”...minha nossa... Evite
agir como um “ser sem noção”!!!)
E a minha preferida:
- O cara era normal e depois do
acidente ficou que nem vocês (“Anormais!!?”)
Só me resta rir... Muito bom lhe ver fazendo o que gosta. Lecionando... Um semestre de resultados gratificante, profa. Bjs
ResponderExcluirVocê está certa, está certíssima...
ResponderExcluirContinue assim, simples, direta e objetiva como você é.
Beijos.
Andierison.
kkkkkkkkkkkkkkkk, é cada uma que a gente ver....Feliz , muito feliz por sua volta!!.Tudo novo de novo!
ResponderExcluirCaraca!!! Ninguém merece ouvir tanta asneira!!! Socorro!! Bjs.
ResponderExcluirTem a tal da saia justa. Se pudéssemos filtrar as palavras, peneirar os ouvidos. O olhar se desvia, mas a intenção não. Dizem que o inferno está cheio, já eu só acredito naquele criado por Dante, mesmo sem ter lido.
ResponderExcluirCreio que muita gente queria somente dizer: seja bem vinda! Natal estava com saudades de você.
Kalina, vc é mesmo ótima com as palavras. Lendo seus escritos, apesar de saber que na maioria das vezes foram escritos cercado de tristezas e expectativas, pego-me rindo de suas "observações educacionais". Educacionais, sim. Sabe pq? Pq tenho aprendido muito lendo seu blog, ou melhor, tenho me educado de verdade.
ResponderExcluirCaralho, como é bom saber que a sua evolução vem surpreendendo até a ciência médica. Isso é maravilhoso!
Espero revê-la em breve. Tenho certeza que um dia iremos olhar pra tudo isso e apostar que tudo não passou de um aprendizado forçado.
Desejo-te muita paciência e sabedoria para tirar de letra qualquer sensação contrária à vitória.
Beijão bem grande,
Geyson.
Se possível, mande um e-mail para mim: geysongalvao@yahoo.com.br